Vínculos Objetais: O Lado Inconsciente das Nossas relações

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Nos relacionamentos, sejam eles amorosos, familiares ou de amizade, frequentemente nos deparamos com desafios que parecem vir de um lugar misterioso. Por que repetimos certos padrões? Por que algumas conversas são tão difíceis? A psicanálise nos oferece uma chave para entender isso através do conceito de vínculos objetais.

Para Freud, “objeto” não é uma coisa, mas sim as pessoas e as figuras importantes em nossa vida, especialmente aquelas da nossa infância, que moldaram quem somos. Os vínculos objetais são, portanto, as formas como nos conectamos emocionalmente com essas pessoas, tanto no passado quanto no presente. Essas conexões são profundamente influenciadas por aquilo que está guardado no nosso inconsciente.

A dificuldade em expressar o que sentimos, por exemplo, pode ser uma manifestação desses vínculos. Muitas vezes, o que parece ser uma briga simples esconde impulsos agressivos que não foram bem compreendidos ou transformados. A capacidade de ouvir o outro sem interrupções, sem que nossas próprias necessidades se sobreponham (o que chamamos de demandas narcísicas ou um foco excessivo em si mesmo), demonstra uma maturidade. É como se conseguíssemos deixar de lado, por um momento, as vozes internas que nos dizem para defender nosso ponto de vista a todo custo.

Quando projetamos no outro experiências passadas ou figuras importantes da nossa história (as projeções de objetos internos), podemos distorcer a realidade da relação. A empatia, nesse sentido, é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de se identificar com ele, para realmente compreender seu mundo interno. A confiança, por sua vez, é construída sobre as experiências positivas que tivemos, especialmente na infância, e sobre a forma como internalizamos essas boas experiências. Críticas destrutivas, por exemplo, podem ser a repetição de padrões de relacionamento que aprendemos no passado, onde figuras importantes nos tratavam de forma dura. A busca por uma comunicação mais elaborada é fundamental para que esses impulsos agressivos encontrem uma forma mais saudável de se manifestar, diminuindo os mal-entendidos que surgem das nossas distorções inconscientes. Dedicar tempo e atenção ao outro, livre das distrações, permite um investimento emocional mais profundo, construindo relações mais estáveis e gratificantes.

Os Sinais de Conexões que nos Fazem Crescer

As relações que realmente nos ajudam a crescer são aquelas onde conseguimos nos identificar com o outro, mas sem nos perder. Há um reconhecimento de que o outro é uma pessoa diferente de nós, com sua própria individualidade, sem uma fusão excessiva onde um se anula no outro. Conflitos são naturais, pois somos seres complexos. No entanto, quando conseguimos resolver esses conflitos sem usar formas imaturas de lidar com as emoções, como a negação ou a agressão desmedida, isso indica uma capacidade de aceitar os sentimentos mistos em relação ao outro.

Quando há uma projeção muito intensa de nossos problemas internos no outro ou quando agimos impulsivamente sem pensar, isso mostra que ainda estamos lidando com partes não resolvidas de nós mesmos. As relações saudáveis nos ajudam a integrar as diferentes partes do outro e de nós mesmos. Por outro lado, vínculos onde repetimos constantemente os mesmos problemas ou onde um busca controlar excessivamente o outro, revelam a influência de figuras internas muito rígidas ou de experiências de relacionamento primárias marcadas por violência emocional. Compreender esses padrões inconscientes é essencial para nos libertarmos de repetições dolorosas e construir relações mais saudáveis.

Quando as Dificuldades nos Relacionamentos Pedem uma Escuta Analítica?

Uma crise em um relacionamento não significa necessariamente o fim. Ela pode ser uma oportunidade para entender e trabalhar os conflitos que estão no inconsciente. Para isso, é preciso que ambos estejam dispostos a olhar para dentro e enfrentar as resistências internas, ou seja, as dificuldades que temos em mudar ou em aceitar certas verdades sobre nós mesmos.

A análise de casal, sob a ótica psicanalítica, investiga as dinâmicas inconscientes que se estabelecem entre os parceiros. Isso inclui como cada um projeta no outro suas expectativas, medos e experiências passadas. O objetivo é construir um relacionamento mais maduro, menos influenciado por conflitos não resolvidos.

No entanto, algumas experiências podem ser muito dolorosas. Uma traição, por exemplo, pode ser uma grande ferida na autoestima ou a quebra de uma imagem idealizada que tínhamos do outro. A violência, por sua vez, é a manifestação de impulsos agressivos destrutivos. Em casos assim, a capacidade de investir emocionalmente no relacionamento pode ser irremediavelmente comprometida. Nesses momentos, seguir em frente sozinho pode ser a melhor escolha para preservar a própria saúde mental.

O autoconhecimento é a bússola que nos guia. Aprofundar-se nas motivações inconscientes e nas formas como internalizamos nossos relacionamentos passados nos permite tomar decisões que vão além da simples repetição de padrões antigos. É um caminho para escolhas mais alinhadas com o nosso desenvolvimento e bem-estar psíquico.

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Psicólogo Rodrigo Teixeira

Escuta acolhedora para autoconhecimento, cura e transformação

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